Manifesto Petista

Um espaço para contribuir com o PT no debate sobre temas da conjuntura.

Sobre um perfil de Gustavo Barroso

Com atraso de muitos anos, li o pequeno ensaio de professor Diatahy Menezes, Gustavo Barroso – um cearense “ariano” (2006, Museu do Ceará).

O título faz a promessa de uma visão mais crítica sobre o personagem, mas o ensaio biográfico é decepcionante.

E não só porque é pouco elucidativo, o que poderia ser fruto apenas do curto tamanho do ensaio, mas também porque o professor Diatahy ameniza inexplicavelmente sua visada sobre o pensador cearense, tratando seu período de  militância fascista na cúpula da Ação Integralista Brasileira (ABI) como uma espécie de incidente no contexto geral de sua biografia política, mas também reiterando uma queixa acerca do tratamento dado à historiografia de Barroso em razão de sua inclinação ideológica. O autor quase nos induz a crer que o intelectual fascista sofreu perseguição e veto.

O professor Diatahy  deixa de notar que curiosamente, ao contrário dos comunistas, esquerdistas e democratas,  que pagaram duramente pela resistência ao Estado Novo, Barroso não perdeu por muito tempo um único privilégio nem cargo, mesmo tendo conspirado e participado de duas tentativas de golpe de Estado. Ao fim do período Vargas, Barroso estava lépido e fagueiro à frente do Museu Histórico Nacional e da ABL.

Sem falar no tratamento simpático que Diatahy dispensa ao perfil humano de Barroso.

A título de justiça, Diatahy não deixa de citar todas as posições fascistas e racistas de Barroso, expressos principalmente no seu período de membro da alta cúpula do Integralismo. Aos que não sabem, Gustavo Barroso representava a “ala direita” do Integralismo. Enquanto Plínio Salgado macaqueava os modos de Mussolini, Barroso era da vertente hitlerista da Ação Integralista Brasileira.

A relativa simpatia pelo personagem da parte do autor aparece logo na dedicatória do livro, feita a seus filhos e onde se refere a Barroso como “um homem que amou estranhamente sua sofrida e bela Terra da Luz”. Na abertura do capítulo “O Integralista Antissemita”, Diatahy escreve: “Com o movimento revolucionário de 30, é evidente que Gustavo Barroso, homem conservador e amante da ordem e da disciplina, saiu politicamente disprestigiado”…cabe perguntar, foi por estes traços que Barroso se inclinou ao fascismo? O desprestígio em função dessas características se configurou numa injustiça?

Enfim, Barroso ainda precisa de uma biografia que lhe faça justiça como um nazifascista que envergonha o estado do Ceará. A desmistificação de sua figura, que dá nome à praças, ruas e escolas em Fortaleza, seria uma homenagem à democracia.

Eudes Baima – membro da Executiva Municipal do PT de Fortaleza

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Virtual personal assistant from Los Angeles supports companies with administrative tasks and handling of office organizational issues.