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OS MOINHOS DE VENTO e o direito à cidadania no Partido dos Trabalhadores

Augusto Lobato, presidente eleito do Partido dos Trabalhadores (PT), lembra muitas vezes a figura lendária de Dom Quixote de La Marcha, imortalizado por Miguel de Cervantes, em sua luta contra moinhos de vento. Para ele, os moinhos eram gigantes malvados, que precisavam ser combatidos. Entre a fantasia e a realidade, Dom Quixote expunha assim a linha fina entre a razão e a loucura; aquela linha que produz a ilusão cotidiana de fazer ver o que não existe. Já Lobato, com recente carta enviada à presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, expõe a própria ilusão, criada nas disputas políticas e ideológicas para justificar a divisão do mandato presidencial no Maranhão, terra que ainda espera a volta de Dom Sebastião, o “misterioso”, o “escolhido”, o “desejado”. Mas, tendo o caldo já derramado, pede apenas coerência na incoerência, já que ele foi o único presidente estadual eleito, no país, a ter o mandato dividido e ainda com o terceiro colocado.

Na carta à Gleisi Hoffmann, Lobato solicita que a prorrogação seja dividida do mesmo modo que foi dividido o mandato. No último Processo de Eleições Diretas (PED), embora Lobato tenha sido eleito presidente do partido com a maioria dos votos pela chapa Unidade Petista por Lula Livre, as chapas Resistir por Lula Livre, liderada por Genilson Alves, e Articulação-CNB Lula Livre, liderada por Francimar Melo, apresentaram recurso contra esse resultado. Só qem invés de investigar o objeto do recurso, a Executiva Nacional do PT optou por dividir o mandato de quatro anos entre Augusto Lobato, que exerceu a presidência de 2020 a 2021, e Francimar Melo, de 2022 a 2023. De forma surpreendente, a divisão do mandato foi decidida a favor do terceiro colocado na eleição e não do segundo. No processo do recurso, após o PED, as duas chapas derrotadas se “uniram” e apresentaram o nome de Francimar como candidato das duas, simulando uma composição de forças e uma maioria eleitoral que nunca existiram no processo das eleições.

Como o mandato dos diretórios estaduais foi prorrogado por mais dois anos, por uma decisão do Diretório Nacional do PT, Lobato apresentou em sua carta a Gleisi a solicitação para que “o mesmo princípio decidido pela Executiva Nacional, ou seja, de tratamento igualitário e isonômico”, fosse aplicado na prorrogação. Resta agora saber se a Executiva Nacional será coerente com a sua própria resolução, embora a primeira decisão, aparentemente sábia e salomônica, tenha legalizado uma pantomima política, indo contra a máxima de Karl Marx de que os fatos aparecem, na história, primeiro como tragédia e depois como farsa. Decisão semelhante à esta já havia ocorrido em 2010, quando o Encontro Estadual do PT decidiu apoiar a candidatura ao Governo do Estado de Flávio Dino, com Teresinha Fernandes vice, e a Executiva Nacional interveio a favor de Roseana Sarney, tendo como vice Washington Luís, que viria a trocar a cadeira de governador pelo banco de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

RESULTADO DO PED/2019/MA:
1º LUGAR – Chapa Unidade Petista por Lula Livre, candidato a presidente: Augusto Lobato, votação: 6.810
2º LUGAR – Chapa Resistir por Lula Livre, candidato a presidente: Genilson Alves, votação: 3.487
3º LUGAR – Chapa Articulação CNB por Lula Livre, candidato a presidente: Francimar Melo, votação: 2.749
4º LUGAR – Optei pelo Socialismo Lula Livre, sem candidato a presidente. Votação: 257

O jogo de sombras fica evidente quando se observa o resultado do PED/2019. O mandato da presidência foi dividido entre o primeiro e o terceiro colocado, numa situação tão misteriosa quanto o sumiço de Dom Sebastião. Ainda hoje, Genilson Alves, o segundo mais votado, mantém um silêncio obsequioso. Entreatos, a carta de Lobato aponta os moinhos de vento, que continuam a disseminar no PT ondas e mais ondas de fantasias e realidades na construção de posições majoritárias à revelia das regras políticas e eleitorais. A carta a Gleisi Hoffmann, com o endosso de mais cem lideranças do PT, pauta o direito à cidadania partidária, hoje, praticamente uma causa quixotesca em razão do majoritarismo e do parlamentarismo que tomaram conta do partido. A democracia interna, tão cara ao PT e aos petistas, não pode ser apenas um chavão de propaganda partidária. Ou, um presente misterioso, tão desejado quanto a volta do “escolhido”.

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