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Uma oposição para renovar o ANDES: democracia sindical e propostas concretas

Maria Caramez Carlotto – professora da UFABC, presidenta da ADUFABC e candidata à secretária geral do ANDES pela chapa 4 Oposição para Renovar o ANDES

As eleições do ANDES-SN acontecerão nos próximos dias 7 e 8 de maio. O ANDES é o sindicato nacional que representa os docentes do ensino superior público de todo o Brasil. Entre ativos e aposentados, são 350 mil professores/as na base, cerca de 70 mil filiados/as, número que vem caindo ao longo dos últimos anos. Ainda assim, segue sendo um dos maiores sindicatos do Brasil e um dos maiores sindicatos de professores da América Latina. Tivesse ele uma outra linha política, filiaria mais e seria, portanto, um dos maiores sindicatos de professores/as do mundo. Faria uma diferença real na luta contra a extrema-direita e contra o neoliberalismo que travamos dentro e fora do país. É por isso que é urgente mudar drasticamente a linha política do ANDES e, tendo em vista esse objetivo, estou integrando, como candidata à secretária geral, a CHAPA 4.

A Chapa 4, Oposição para Renovar o ANDES, é uma articulação ampla e democrática de presidentes/as, vice-presidente/as, ex-presidentes/as, diretores/as e filiados/as de Associações Docentes de todo o país, que compartilham uma leitura profundamente crítica da maneira como o ANDES-Sindicato Nacional vem se organizando há décadas.

O que nos une, portanto, é uma lógica sindical que, por isso mesmo, transcende partidos, tendências e grupos que compartilham uma análise da conjuntura, um diagnóstico crítico sobre a direção política que enfraquece o ANDES e uma proposta concreta para reverter essa situação. Somos professores e professoras de todas as correntes do PT, de setores do PSOL, de setores do PCdoB e independentes que compartilhamos o seguinte diagnóstico:

Do ponto de vista da análise da conjuntura, entendemos que enfrentamos um momento histórico tão difícil quanto perigoso. O fortalecimento da extrema-direita de perfil autoritário, quando não abertamente fascista, coloca uma ameaça existencial para a democracia e, com dela, para a educação pública em geral, e a educação superior, em particular. Basta ver o que aconteceu no Brasil de Bolsonaro e o que está acontecendo nos Estados Unidos de Trump para constatar que as universidades e demais instituições de ensino e pesquisa como institutos federais e CEFETs, são alvo prioritário da ameaça autoritária. Por outro lado, a força dos consensos neoliberais, inclusive nas frentes amplas democráticas, é outra ameaça, seja porque os interesses privatistas organizados enfraquecem materialmente a educação pública e a infraestrutura de ciência e tecnologia, seja porque as consequências da austeridade neoliberal fortalecem o apoio popular às soluções autoritárias.

Nesse contexto, para lutar contra a dupla ameaça da extrema-direita autoritária e da direita neoliberal e privatista, precisamos, mais do que nunca, de força social. É nesse ponto que nós, da chapa 4, compartilhamos uma leitura profundamente crítica sobre a direção política assumida pela direção do ANDES-SN desde, pelo menos, o início dos anos 2000. Essa direção vem privilegiando, em síntese, um sindicato para poucos, supostamente radical, mas, na verdade, apenas ultraminoritário e, portanto, enfraquecido e isolado. Como resultado dessa orientação, o ANDES vem, ano após ano, se apequenando do ponto de vista quantitativo e qualitativo.

Do ponto de vista quantitativo, o número de filiados/as do ANDES vem caindo ao longo dos anos: em 2018, eram 69.152 filiados/as, calculados pelo número eleitores/as aptos/as naquela eleição; em 2025, não fosse a entrada da UFSCAr no ANDES, esse número teria chegado a 66.597 eleitores/as aptos/as, portanto, filiados/as. A queda de filiados/as não se manifesta, porém, da mesma maneira nas diferentes ADs. Por isso, qualquer tentativa de atribuir essa queda a razões estruturais está equivocada. Nesse sentido, é importante frisar que as ADs dirigidas pela articulação da chapa 4 têm, ao longo dos últimos anos, aumentado o número de filiados. É o caso da ADUFAL (+10%), ADUFABC (+31%), ADUFMS (+7%), UFRRJ (+17%), ADUNB (+2%), para citar só algumas considerando o período 2023-2025. Assim, apesar de estarmos conseguindo aumentar o número de filiados/as nas nossas Associações Docentes – como aliás, a ADUNICAMP (+13%), no ANDES como um todo, o resultado é negativo. Isso se deve a uma orientação política, que predomina nas ADs dirigidas pelas chapas 1, 2 e 3, de priorizar um sindicato para poucos.

É essa orientação política que explica porque o ANDES vem se apequenando também do ponto de vista qualitativo: o ANDES-SN deixou de ser um ator político relevante na conjuntura nacional, porque está ausente das lutas essenciais pelos rumos da política educacional, científica e tecnológica, assim como esteve ausente das batalhas políticas mais importantes do país no último período. No primeiro caso, o exemplo mais gritante é recusa da atual diretoria do ANDES de integrar o Fórum Nacional de Educação e, com isso, de participar efetivamente do debate do Plano Nacional de Educação, no qual a educação superior, por isso mesmo, perdeu espaço. No segundo caso, ainda ressoa o silêncio ensurdecedor do ANDES nas lutas em defesa da democracia, seja no golpe de 2016, seja no contexto da justiça de exceção da lava-jato e da prisão política de Lula.

Para enfrentar essa situação de isolamento e enfraquecimento do ANDES-SN, a chapa 4 tem uma proposição política que tem dois pilares :

1/ um choque de democracia sindical e;

2/ propostas concretas para problemas concretos.

Um choque de democracia sindical passa, na nossa opinião, por uma reformulação do funcionamento do ANDES, por meio de ações como:

i) mais espaços para as ADs, especialmente no congresso;

ii) congressos mais curtos, em que os debates sejam em torno das grandes questões políticas;

iii) redução do “custo ANDES”, inclusive por meio de reuniões virtuais e híbridas nos GTs e reuniões de setor;

iv) comissão eleitoral democrática de fato;

v) desburocratização;

vi) repensar a diretoria composta por 83 membros.

Já propostas concretas para problemas concretos passa por reconhecer que temos acordo com as pautas histórias defendidas pelas demais chapas, porém, queremos ir além e debater temas que hoje são “tabus” no ANDES, mas que impactam profundamente a vida dos/as professores/as, tais como:

  1. saúde ( ao lado da defsa do SUS, queremos discutir a criação de um plano nacional de saúde);
  2. previdência (ao lado da defesa da previdência pública integral, queremos discutir o que fazer com o FUNPRESP)
  3. endividamento (ao lado da recomposição salarial, queremos pensar estratégias para combater o endividamento, incluindo redução de spread bancário)

iv) habitação (ao lado de alojamentos nos campi interiorizados ou nas universidades multicampi, queremos estudar um modelo de financiamento habitacional para professores);

v) equidade de gênero (construir uma pauta concreta para as mulheres cuidadoras e as famílias atípicas);

vi) política de cuidados nas universidades (que inclua da creche ao reconhecimento do peso do trabalho de cuidado).

Esses temas – democracia sindical e propostas concretas para problemas concretos – só a chapa 4 tem coragem de trazer para o debate eleitoral do ANDES e, talvez isso explique porque a chapa 4 precisou recorrer à justiça para participar da eleição, depois que a comissão eleitoral, com o voto das três outras chapas, negou a homologação da chapa 4, numa decisão que o juiz caracterizou como “abuso de direito”, “desproporcional e contrária ao objetivo maior de garantir a pluralidade e a democracia no processo eleitoral sindical”, uma vez que as regras eleitorais, não podem “obliterar prerrogativas dos associados que reúnem todos os requisitos para participar das eleições sindicais” segundo o estatuto.

Sem dúvida, a chapa 4 incomoda. Incomoda porque é uma articulação ampla e democrática de quem quer mudar profundamente o funcionamento do ANDES, numa direção mais democrática e mais sindical, para que possamos reunir forças e estar à altura dos desafios da conjuntura. Nós dia

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