O MOMENTO EXIGE DECISÕES RÁPIDAS, DRÁSTICAS, EFICIENTES E
DURADOURAS. ELAS SÃO NECESSÁRIAS, POSSÍVEIS E ESTÃO AO
ALCANCE
Há décadas cientistas do mundo todo, muitos e entre os mais competentes estão
em nosso país, têm alertado sobre as mudanças climáticas provocadas pela ação
do homem. Ações que emitindo poluentes que agridem a saúde humana e
aquecem a superfície da terra, ações eliminado florestas e matas, contaminando e
secando rios em superfície e aéreos (como os da Amazônia), comprometendo
todos os nossos biomas, numa grande combinação a favorecer a ocorrência de
eventos climáticos extremos – secas e enchentes, frio e principalmente muito
calor e agredir a saúde humana. Nestes dias o eminente cientista Carlos Nobre,
um dos maiores estudiosos e conhecedores do tema e da Amazônia emitiu, em
entrevista, mais um alerta: ninguém havia pensado que chegaríamos tão rápido a
uma condição tão assustadora como esta que estamos vivendo, dizendo sentir-se
apavorado. Afirmou o cientista que estamos com a maior temperatura na Terra
desde que existem civilizações.
Focos de incêndios são observados e progridem em todo país e com maior
intensidade, desde há dois meses, sobretudo nas regiões Norte/Amazônica,
Centro-Oeste – Cerrado, Pantanal- áreas da Caatinga e em São Paulo. Tudo
indica serem provocados pelos interesses dos donos e dos querem ter terra ou
mais dela, para os mais variados fins, mas todos voltados para o ganho fácil à
custa da população, do país e da piora do clima.
Esses incêndios liberam entre outros, um poluente chamado material particulado
e no caso bem pequeno, fino (menor do que 2,5 micrometros) e ultrafino (menor
do que 0,1 micrometro- 1000 vezes menor do que a espessura de um fio de
cabelo) como são denominados, que entram mais fácil nos pulmões e provocam
mais danos ao organismo.
Essas partículas, por serem muito pequenas, são muito leves e ficam em
suspensão dias, semanas, condição prolongada com o ar mais seco, como tem
acontecido. O tempo seco ajuda a mantê-las mais tempo em suspensão, pois não
adsorvem água, o que as tornaria mais pesadas e assim cair ao solo.
No caso de São Paulo, além de receber poluentes que viajam centenas e milhares
de quilômetros dos focos de origem e de queimadas do entorno, uma pluma
permanece estacionada a 2-3 km acima da superfície, com pouca dispersão, pelas
parcas correntes de ventos registradas atualmente. Por outro lado, as partículas
que vão se depositando no solo são ressuspensas, em boa parte, pelo movimentar
dos veículos.
Todos esses fatos vêm mantendo, em centenas de cidades, de vários estados do
país, concentrações muito elevadas desses poluentes e a previsão é de que esta
situação persista, sem melhora significativa, pelo menos para os próximos 20
dias.
A poluição do ar foi responsável por mais de oito milhões de morte em todo o
mundo, em 2020. Estimativas sugerem que ela superou as mortes pelo
tabagismo.
O que está acontecendo agora no Brasil está levando a um aumento em
milhares/milhões a demanda por atendimentos por saúde. Será responsável por
milhares de internações e mortes, muitas observadas neste período e outras tantas
nos próximos meses, mas decorrentes da inalação atual dos poluentes. Elas
ocorrem fruto das complicações geradas pelas alterações induzidas pelo poluente
agora inalado, um efeito subagudo, digamos assim.
Essas partículas quando entram nos pulmões pelo nariz e pela boca provocam
danos. Um adulto inala 10 mil a 15 mil litros de ar por dia para ter oxigênio, o
comburente necessário para produzir energia, a partir dos alimentos que
ingerimos, e assim continuarmos vivos.
Num ambiente com ar poluído, com o oxigênio entra nos pulmões todo tipo de
porcaria, como essas partículas. Nos pulmões elas provocam reações químicas,
induzem a formação de milhões de radicais livres, consomem as defesas
antioxidantes existentes nos pulmões e induzem uma inflamação continuada em
todo encanamento dos pulmões – os brônquios e bronquíolos – aumentando o
risco de descompensação ou agravamento em pessoas que tem enfisema,
bronquite crônica, asma, bronquiectasias, fibroses pulmonares.
Esse processo também reduz a capacidade de defesa contra infecções o que
predispõe a pneumonias virais e bacterianas. Os bebes e crianças, com menos
defesas do que um adulto, têm maior risco de sintomas como tosse, sibilos,
roncos, catarro, de infecções respiratórias e de otites.
Mas não é apenas nos pulmões os efeitos. A inflamação pulmonar estimula
terminações nervosas intrapulmonares, fibras do sistema nervoso autônomo,
provocando alteração do balanço do mesmo, o que aumenta o risco de arritmias e
de morte súbita e nos vasos aumenta a pressão arterial e a ruptura de placas de
ateroma e com isso maior risco de infarto do miocárdio e de acidente vascular
cerebral. Por outro lado, o processo inflamatório pulmonar libera mediadores
para a corrente sanguínea que altera a viscosidade do sangue bem como induz a
formação de outros fatores envolvidos na coagulação, aumentando o risco de
eventos tromboembólicos e com isso o risco de infarto do miocárdio e de
acidente vascular cerebral. Pessoas com diabetes, com anemia falciforme,
talassemia e doenças autoimunes também são mais afetadas.
Esses fatos e mecanismos vêm sendo estudados há muito tempo e, na maioria dos
países, tem sido adotada legislação impondo cada vez limites menores como
aceitáveis para os poluentes, possíveis através de medidas, como uso de outros
combustíveis, de motores mais eficientes, incentivo à bike, ao transporte público,
restrições à circulação de veículos, mais áreas verdes. E isto vinha ocorrendo,
vagarosamente no Brasil, mas vinha, mas nos últimos 10 anos estacionou a queda
dos níveis de poluentes e agora vem aumentando vertiginosamente em grandes
cidades do Brasil. Não falo da Amazônia e Cerrado que não vivem refresco há
tempo.
E a gravidade do problema, agora exposto e percebido por todos, exige medidas
urgentes. A situação é muito mais grave em perdas temporárias ou definitivas de
vidas e no impacto do clima, do que o que ocorreu no Rio Grande do Sul com as
chuvas. Entretanto, não vem merecendo por parte do Estado um décimo da
atenção e dos recursos para o enfrentamento dessa emergência climática e
humana.
Negacionismo não se aplica apenas aos que negam a existência dos problemas,
mas também aos que, embora admitindo-os, pouco fazem.
O momento é de um chamamento à mobilização nacional, dos jovens, das
universidades, de toda rede escolar, de saúde, de cultura, do povo, numa cruzada
contra os incêndios, para identificar focos e suas origens, conter a sanha dos
botadores de fogo, de seus mandantes. É momento de encher o Maracanã, do
Itaquerão e tantos outros, no mesmo sentido pedagógico e mobilizador de Vila
Lobos ao reger um coral de 40 mil vozes no Estádio do Vasco da Gama, em São
Januário, no sete de setembro de 1940. Agora com outro maestro e música, mas
com a mesma preocupação.
É momento de o Governo Federal se pronunciar e agir com vigor, um
chamamento à mobilização, de disponibilizar todos os recursos necessários (não
os que Planejamento e Fazenda acham possíveis – pois de onde menos se espera é
que não sai nada mesmo, já dizia o Barão). Passados meses e 52 inquéritos da
PF, sem resultado público conhecido, o fogo persiste alimentado e com ele a
sensação de impunidade, de falência do Estado. Em cada cidade do Brasil,
brigadas contra o fogo e os incendiários devem ser incentivadas, ampliando as já
nascentes e bravas iniciativas locais e os poucos heroicos que atuam como
bombeiros. Envolvimento dirigido, maciço e determinado das forças de
segurança para apoiar e garantir toda mobilização nacional em defesa da vida e
do clima.
Na anunciada criação da Autoridade Nacional do Clima não cabe conciliação. O
Clima só tem saída com a derrota da política de queima, de grilagem de terras, de
desmatamento, cujos representantes têm nomes e não devem ser eles ou seus
prepostos, mesmo os que ostentem no nome alusão à áreas verdes, a serem
designados para tal atribuição. Este cargo cabe um radical defensor da vida e do
clima. Um inconciliador.
É meritório um governo de cunho democrático dar representação na sua
composição, a setores antes excluídos ou poucos levados em conta na formulação
e execução de políticas públicas. Assim, a criação de ministérios, como o dos
povos indígenas, do meio ambiente, da igualdade racial, da mulher pareceu ser
um passo adiante, com coragem, sem se preocupar com os sempre críticos à
ampliação da estrutura do Estado.
Mas, a inclusão dessas representações em ministérios não representou a inclusão
de politicas na dimensão que o governo informava querer dar voz, repartir o
poder de decisão. Estão hoje mais pra pinguins de geladeira.
Nossa Ministra do MA, com ares de cansada de guerra, precisa se inspirar no seu
saudoso primo, o santista, Lamir Vaz de Lima, e puxar a faca. A Ministra dos
povos indígenas precisa descansar o pesado cocar sobre a cadeira e sair junto aos
seus povos, a fazer a dança da guerra. O Ministério da Saúde tratar o problema
também como seu na dimensão posta, com orientações, boletins diários e
providencias para a melhor coleta de informações e ações em tempo real. E o
presidente a COMANDAR.
SP 15/09/2024
Uma resposta
Vejo o Presidente Lula se reunindo com ministros mas não com especialistas que possam ajudá-lo a pensar e equacionar os problemas. Os ministros nunca tem nada pra falar. Quase ninguém sabe os nomes de cada um e as pastas pelas quais são responsáveis.
Tá muito ruim a situação toda.