A eleição para a presidência do Senado que acontece na próxima quarta-feira, dia 01/02 será, sem dúvida, um dos acontecimentos políticos de maior relevância durante o primeiro ano do governo Lula III.
A eleição será presencial e o voto é secreto.
Até o momento, desde os ataques de 08 de janeiro, há uma atuação coesa de todos os poderes da República no sentido de condenar a barbárie e isolar o bolsonarismo (a essa altura, não faz mais sentido falar em bolsonarismo radical, há só um bolsonarismo e ele é radical). Isso tem legitimado e fortalecido a aposta do governo Lula na composição institucional como tática única, senão exclusiva.
Mas se o bolsonarismo eleger Rogério Marinho (PL-RN) presidente do Senado, põe em xeque essa tática. Isso porque coloca uma cunha nessa unidade e muda substancialmente a correlação de forças, atualmente muito desfavorável ao bolsonarismo.
A começar porque assume, por tabela, a presidência do congresso, tornando-se líder de uma das casas e de um dos poderes. Com isso, também, ganha a possibilidade de pautar o impeachment de ministros do STF, como Alexandre de Moraes – hoje o arqui inimigo do bolsonarismo.
De uma tacada só, o bolsonarismo quebra a unidade da frente em defesa da democracia, sai do isolamento e parte para ofensiva.
É isso que explica porque o bolsonarismo entrou com força total nessa disputa. Está, em bloco, fazendo campanha contra Pacheco. Nas redes, nas ruas, nos corredores de Brasília e onde mais puder porque disso depende, em parte, o seu destino no curso prazo.
Do ponto de vista partidário, estamos falando do bloco que ontem anunciou apoio a Marinho: o PL, de Lira, Bolsonaro e Marinho; o PP de Ciro Nogueira; e o Republicanos, de Tarcísio e Flávio Bolsonaro.
Depois da tentativa de golpe de 08 de janeiro e da unidade que se desenhou a partir dali, é surpreendente que o bolsonarismo tenha conseguido se reagrupar, mostrando tanta força institucional e, a partir dela, se colocando tão visceralmente contra Pacheco (com o STF, com tudo).
Mostra que quem acha que “Inês é morta”, erra feio.
Por outro lado, há uma disputa muito importante dentro desse bloco (PL/PP/REP), entre os seguem na canoa bolsonarista e os que querem tirar o pé, pulando fora de vez. Tanto pelos riscos que o bolsonarismo representa quanto pelas oportunidades que se abrem na composição com o novo governo.
Se Marinho vencer, aumentam as chances do bolsonarismo seguir liderando a oposição no curto e médio prazo. Se perder, o centrão tende a assumir um sentido mais literal e a oposição deve ser liderada por figuras não mais mais moderadas, mas menos combativas (como Tarcísio).
Dizem que a possibilidade de Marinho derrotar Pacheco é pequena, mas podem ter surpresas. Primeiro, porque a candidatura de Eduardo Girão também está a serviço desse projeto bolsonarista. Segundo, porque Marinho agariou acordos “novos” e importantes como do PSDB.
Para mim, ao lado do genocídio Ianomâmi, essa será a grande pauta da semana e um dos acontecimentos mais decisivos do governo Lula III.
Pelo menos dois fatos comprovam a centralidade da eleição para presidência do Senado na atual conjuntura: a entrevista de Alexandre Padilha para a Folha presença de Michele Bolsonaro em evento do PL.
O relevante na entrevista de Padilha está na manchete: o PT está aberto a independentes do bloco do PL, PP e Republicanos que queiram eventualmente compor com o governo.
Isso mostra que o bloco está rachado mesmo e que o governo opera para fortalecer o centrão raiz. É esse, aliás, o sentido do apoio do PT a Lira do PL na câmara. Mas mostra tbm que a articulação do bolsonarismo está a todo vapor, a ponto de fazer o governo acenar publicamente.
Público, também, tornou-se o apoio do próprio Bolsonaro a Marinho, por meio da participação de Michele Bolsonaro em evento do PL onde Bolsonaro e entrou via celular para saudar Marinho no viva voz, publicizando o que todos já sabiam: Marinho é Bolsonaro e Bolsonaro é Marinho.
O que é interessante em tudo isso é que será um teste de fogo para a aposta do governo do Lula em geral, e do PT em particular, na composição institucional como caminho praticamente exclusivo de enfrentamento do bolsonarismo.
Eu tenho minha opinião formada sobre o sucesso dessa aposta, e ela não é boa. Amanhã veremos.