A Guerra Fria dividiu o mundo após a Segunda Guerra Mundial entre dois blocos: capitalista, liderado pelos EUA, e socialista, liderado pela União Soviética. Esse conflito político-ideológico estendeu-se até o ano de 1991, quando ocorreu a dissolução da União Soviética.
O Brasil, como a maioria dos países da América Latina, perfilou-se ao lado dos EUA, que intervieram política e economicamente nos países sob seu domínio, inclusive apoiando ditaduras da região.
O ano de 1978 marca a eclosão de grandes greves na região do ABC paulista e a emergência do líder sindical Luis lnácio Lula da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
O país vivia sob os auspícios da ditadura militar instalada com o golpe de 1964, que já dava sinais de decadência. Em 1979 foi aprovada a lei de anistia, um dos primeiros passos da redemocratização.
Em 1980 foi criado o Partido dos Trabalhadores reunindo militantes de esquerda, artistas, intelectuais, sindicalistas, católicos, de perfil social-democrata, de centro-esquerda, antistalinista. Ao longo de sua trajetória, ocupou o mesmo espaço do rival PSDB, liderado por Fernando Henrique Cardoso, partido que desbordou para o neoliberalismo e para a direita, perdendo a identidade original.
Lula, que anteriormente renegava a política fora do sindicato, assumiu a liderança do partido, e, após várias tentativas, a presidência da república, em 2003. Reeleito em 2006, conseguiu eleger a sucessora, Dilma Roussef, alijada do poder por meio de golpe jurídico, parlamentar e midiático de 2016. O vice, Temer, assumiu o poder e sedimentou o terreno para a prisão de Lula em 2018 e assunção de Bolsonaro, em 2019. Lula retorna triunfante em 2023 e administra o país sob a ameaça constante de golpe de estado, construindo frente partidária para garantir a governabilidade.
Aliás, Lula garantiu a apertada vitória de 2022 com alianças ao centro e centro-direita. Alckmin, seu antigo adversário, compôs a chapa concorrendo ao cargo de vice-presidente.
O governo manteve programas sociais emblemáticos como o Bolsa Família, e retomou a valorização do salário mínimo. A par dessas medidas, fez concessões ao agronegócio, ao mercado Financeiro e a parlamentares do “centrão”.
O início do mandato foi marcado por nova regra para equilibrar o gasto público , o chamado Arcabouço Fiscal, e pelo embate com o presidente do BC, que insistia e ainda insiste em manter altos os juros básicos da economia. O entrave: desequilíbrio fiscal, que veio à tona recentemente com apresentação de propostas de cortes no orçamento do governo federal, que amarga as contradições próprias do sistema presidencialista de coalização adotado no país e enfrenta dificuldades crescentes para negociar com um parlamento adverso e hostil.
Há sérios problemas em retomar espaços políticos perdidos nesses anos com o sistemático ataque da oposição às pautas progressistas, ou de esquerda. No campo internacional verifica-se o fortalecimento da extrema-direita e uma espécie de renascimento da Guerra Fria, com a materialização de blocos opostos: o “mundo livre”, representado pelas democracias ocidentais lideradas pelos EUA; de outro, países emergentes, rotulados pela mídia corporativa como tiranias, a exemplo de países como China, Rússia. Irã, Cuba, Venezuela, Nicarágua, dentre outros.
Neste cenário temos o Brics, grupo de países emergentes integrado inicialmente pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, com o objetivo de propiciar cooperação econômica, desenvolvimento e fortalecimento recíproco. É uma aliança política visando democratizar a governança internacional. Este grupo atualmente estuda o ingresso de novos membros e vem se inserindo no contexto mundial em oposição à política imperialista implementada pelos EUA e parceiros.
E o Brasil, como se posiciona neste conflito ?
Como asseverou José Dirceu, em entrevista recente a Uol, Lula montou um governo de centro-direita. Salientou que tal se deu em razão de ”exigência do momento”. Ele tem razão, nos últimos tempos Lula dá uma guinada acentuada para a direita. Não à toa elogiou representante magno da ditadura recentemente falecido, o economista Delfim Neto, que por sinal o elogiou quando embaixador brasileiro em Paris: “É uma das coisas mais importantes que têm acontecido neste país” (Nosso Século – 1960/1980, Abril Cultural, página 285), não reconheceu a vitória de Maduro, reluta em ingressar na Nova Rota da Seda, programa de investimento chinês voltado essencialmente em infraestrutura, criou arestas com a Nicarágua, fazendo oposição ao ingresso deste país e da Venezuela ao Brics e mantém ministro da defesa que contestou posicionamento do governo – “ranço ideológico” – nas negociações de armamentos com Israel e Alemanha, proteção às terras indígenas, e, de certa forma, minimizou papel do exército no golpe de 64 ao declarar que: “Se o Exército foi o responsável pelo golpe de 64, também foi o responsável por evitar o golpe de 2023”.
Enfim, é o Lula pragmático, retornando às origens sindicais, se equilibrando no poder, assumindo cada vez mais as pautas da direita liberal nos moldes do antigo PSDB de Fernando Henrique Cardoso, derivando para o centro e para a direita em razão das lides eleitorais, evitando confronto com o imperialismo estadunidense e se colocando como “paladino da democracia” na América do Sul, nos passos de seu colega Boric, do Chile. Afinal, é preciso cautela para lidar com esse mundo politicamente conturbado.
E o PT? Como fica o partido que criticou o arcabouço fiscal, opõe-se a cortes de recursos destinados às áreas da saúde, educação e previdência social, reconheceu a vitória de Maduro, e atua para retorno do governo às pautas da esquerda? Todo esse imbróglio agravado pelo fraco desempenho nas eleições municipais.
Pois é! Como fica o PT??
Ora, o PT que aproveite o momento e defina de vez seu destino, redirecionando os rumos para o socialismo democrático e pelas mudanças estruturais na injusta sociedade brasileira.
É isso aí!
Uma resposta
Registro excelente e oportuno, que deverá fazer parte da história do país e do PT. Pena que o governador da Bahia, Sr. Gerônimo Rodrigues esteja marchando na contra mão. Enquanto Lula pede voto para os candidatos do PT, aquele pede para os candidatos da oposição.